quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Ideologia sem saber como agir não vale de nada

Acho engraçado ver estudantes protestando na USP, dizendo que a mídia influencia no entendimento do que acontece. E que estão nem aí para o que ela coloca, porque ela sempre vai estar influenciada pelos poderosos e pela burguesia. Se a mídia influencia a visão popular, o mínimo que se deve fazer é não colaborar com isso e ajudá-la a passar a imagem de marginal.
Estes estudantes tem que entender que a imagem que se transmite é importante sim. E acima de tudo tentarem transmitir sua ideologia pelas vias fora dessa mídia convencional. Falta para o povo uma visão daquilo que esses estudantes defendem. Parece apenas um bando de baderneiros e rebeldes sem causa.
Vi um texto muito bom sobre o assunto, de um estudante de publicidade da própria USP.
Transcrevo agora pois concordo totalmente com ele:

"Eu ia escrever alguma coisa rápida, mas acabou virando uma carta sobre o movimento estudantil na USP. Acontece. Cuidado, contém uma certa dose de hipocrisia e revolucionarismo de sofá por minha parte:

Fico decepcionado que estudantes de Humanas ainda não tenham aprendido a argumentar. Em todo texto que leio, inclusive esse manifesto, são colocados como axiomas que os estudantes estão se manifestando politicamente e a polícia militar está reprimindo essas manifestações políticas. Ninguém define quais são as manifestações políticas e os respectivos atos de repressão.

Eu não consigo nem dizer que eles só se prestam a contar um lado da história, porque nem o lado dos estudantes eles nos contam. Fica a nosso cargo imaginar quais são as tais manifestações políticas que andam sendo supostamente reprimidas todos os dias na universidade. Quando surge um exemplo, é a greve dos funcionários de 2 anos atrás, em que um lado (polícia e mídia) diz que a reação policial se desencadeou após quatro soldados serem encurralados por estudantes, e o outro (funcionários e estudantes) só diz que essa reação foi exagerada e todo mundo apanhou muito, mas nunca se toca no assunto dos supostos soldados encurralados e ninguém pode afirmar categoricamente se foi isso ou não foi o que aconteceu. Se tem alguém que já falou nisso, eu não cheguei a ver.

Mesma coisa agora. Falam muito em manifestação política e repressão, mas por que ninguém fala no começo da história? Alguém aqui consegue dizer como foi que aconteceu a abordagem dos três estudantes? Eles apanharam em algum momento? A polícia foi abusiva na forma de abordagem? Quantos policiais eram? Surgiram 40 policiais só pra prender os três, ou isso foi só depois de surgirem vários estudantes para impedir que os estudantes fossem levados? E quanto à história de chutarem e atirarem pedras nas viaturas, dos estudantes encurralarem um grupo de policiais, em que momento isso aconteceu? A única fonte de informação oficial que acabamos tendo é a mídia, porque nos textos em defesa do protesto não se fala nisso tudo. Apenas nos dizem que houve repressão. Mas a lógica passa longe de ligar fatos e chegar a conclusões.

E aí tem os relatos de estudantes sendo abordados diariamente pela polícia dentro da universidade. Eu acredito se falarem em abuso de autoridade. Isso nós sabemos que acontece todos os dias, e fora da USP acontece de maneira muito pior. Já vi muito moleque tomando geral da PM em vários cantos da cidade. Mas quando acontece dentro da USP, é "repressão". Repressão contra o quê? De que atos políticos os estudantes estavam participando quando foram abordados? Alguém levou tapa na cara e foi revistado porque, coincidentemente, a polícia apareceu quando alguém reclamava do reitor ou do governo? Repressão é um termo muito forte pra ser usado em vão, sem explicações. Eu quero argumentos que caracterizem o fato como repressão. Não quero ouvir um "historicamente, a polícia militar entra na USP pra reprimir manifestações políticas". Eu quero saber o quê, neste ou naquele casos específicos, caracteriza a repressão política. Defina "repressão".

Mas ninguém me conta. Só me dão a escolha de acreditar que a polícia praticou um ato repressivo, e se eu não acredito nesta afirmação por si só, sou automaticamente um reacionário cego, um ignorante de direita. Estou cansado já dessa lógica recursiva dos estudantes, que no fim só diz: é repressão porque é repressão. Eu imploro que alguém abra meus olhos, me esclareça. Que alguém me ensine a enxergar o raciocínio lógico que relaciona o fato da polícia ser corrupta e abusiva nas favelas à conclusão de que dentro da USP esses abusos são repressão política, e não somente abuso da força. Abuso que acontece a torto e a direito, no Brasil inteiro, e não somente dentro dos muros da USP. Abuso que acontece de forma até pior fora deles, e ninguém está fazendo nada para consertar.

Só peço que alguém comece a argumentar com lógica e clareza. Uma enxurrada de fatos não vale de nada se não existe um argumentação relacionando esses fatos a uma conclusão lógica. Afinal, fatos dependem de ponto de vista. Os estudantes viram três pessoas sendo reprimidas pela polícia, enquanto a mídia viu três maconheiros sendo presos e um bando de estudantes impedindo que a polícia cumprisse seu trabalho. A mídia deu os argumentos dela: usar maconha é contravenção penal. Os estudantes apenas gritaram: REPRESSÃO!"

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